Crítica de Meia-Noite ou o princípio do mundo (de Célia Vieira)

08-12-2010

O então director do Teatro Nacional S. João no Porto, Ricard Pais, pediu-me um texto sobre "O Mercado da Veneza" (Shakespeare).  Eis o resultado.   A tradução é de Rui Pires Cabral

 

Sob a máscara cristã

RICHARD ZIMLER

As obras literárias mudam à medida que envelhecemos. Um breve exemplo… Quando li pela primeira vez o Trópico de Câncer, de Henry Miller, há trinta anos, logo após ter terminado os meus estudos na universidade, o uso da linguagem do autor pareceu-me inteligente, inventivo e excitante. O narrador surgia-me como uma espécie de anti-herói picaresco a lançar a sua própria rebelião sexual nas ruas e pensões de Paris. Há dois anos, voltei a ler o romance. Tinha então 50 anos, com cerca de três décadas de experiências – algumas felizes, outras traumáticas – a separarem-me do jovem que tinha sido. Desta feita, achei a narração irritante e artificiosa, como se o autor tentasse a cada passo impressionar-me com a sua insolência boémia e a sua atitude radical. Pior ainda, Miller parecia-me agora um egocêntrico sem remissão – tornara-se enfadonho.
Obviamente, o narrador não mudara durante os trinta anos decorridos entre as minhas leituras do romance. Mas eu sim! Sob muito aspectos, na minha evolução pessoal, tinha-me afastado dos temas e interesses de Miller, ultrapassando-os talvez.
Não é apenas o desenvolvimento individual do leitor que afecta o modo como um romance é lido, mas também a época e a estrutura psicológica da sociedade envolvente. O mesmo se pode dizer em relação a uma peça de teatro, claro está, já que estas renascem de cada vez que são levadas ao palco. No caso de O Mercador de Veneza, isto significa que a peça que Shakespeare estreou em 1597 não é de modo algum a mesma obra a que assistirão os espectadores do TNSJ. Nem poderia ser, tendo em conta que Portugal de 2008 está muito longe – culturalmente, psicologicamente e religiosamente – da Inglaterra de finais do séc. XVI.
Cada uma das palavras de Shakespeare – cada fala de Shylock, Pórcia, Bassânio e Jéssica – possui hoje uma ressonância diferente da que tinha há quatrocentos anos. Os pensamentos e as emoções que essas palavras nos inspiram não são, nem de perto nem de longe, os mesmos que inspiravam aos ferreiros, aristocratas e criadas de taberna que em 1597 afluíam ao Globe Theatre para assistir à mais recente obra do célebre dramaturgo.
A influência decisiva que a passagem de quatro séculos teve sobre O Mercador de Veneza é particularmente notória, julgo eu, no que toca ao aspecto que se tem revelado mais problemático ao longo das últimas décadas – refiro-me ao seu anti-semitismo. E isto, em grande medida, porque o público de Shakespeare pouco ou nada saberia sobre a cultura ou a história judaicas. É altamente improvável que qualquer um desses espectadores tivesse lido mais do que algumas passagens escolhidas do Antigo Testamento, e só um punhado deles, na melhor das hipóteses, teria conhecimento dos mais básicos elementos da filosofia e cultura judaicas. Nenhum deles se teria jamais cruzado com quaisquer judeus praticantes, uma vez que todos os ingleses dessa fé tinham sido expulsos por Eduardo I em 1290 e só seriam novamente aceites no país – curiosamente, a pedido de um judeu de origem portuguesa, Menasseh ben Israel – a partir de 1655. Na época, os poucos judeus ingleses viviam em pequenas comunidades altamente sigilosas, usando em público a máscara cristã.
Consequentemente, quaisquer ideias e opiniões que Shakespeare e os seus espectadores possuíssem em relação aos judeus seriam forçosamente formadas pelos estereótipos ferozmente negativos da época, em grande medida fomentados pela Igreja e disseminados através das centenas de peças populares encenadas durante as festividades cristãs.
Na imaginação isabelina, o Judeu era o assassino de Cristo – um conspirador malévolo, sub-humano, que trabalhava continuamente contra tudo o que havia de bom e sagrado. Era geralmente comparado ao diabo, e, ao estabelecer tal analogia não menos do que oito vezes ao longo da peça, Shakespeare limita-se a seguir uma convenção consagrada pelo tempo. De facto, quando declara que “o judeu é o diabo em pessoa”, Lancelote está a usar uma fórmula repetida por milhares de padres, cruzados, bispos e reis antes dele. Os judeus eram frequentemente acusados de sequestrarem e sacrificarem crianças cristãs, cujo sangue utilizavam em rituais abomináveis, uma ideia que Shakespeare adapta, convertendo-a na exigência de Shylock do seu célebre “meio quilo de carne de homem”.
Numa era em que os homens e as mulheres de todas as classes e condições acreditavam em magia negra e na presença física de forças demoníacas, em que os casos de exorcismo eram comuns e os suspeitos de bruxaria queimados na fogueira, o medo inspirado pelo judeu enquanto demónio sob forma humana – ou enquanto necromante ávido de sangue cristão – era um facto implacável e bem real, ainda que tal sentimento de terror seja hoje, creio eu, praticamente impossível de imaginar. A prova do poder visceral de tais mitos, contudo, está no facto de terem dado origem a frequentes pogromes – desde a Idade Média até às primeiras décadas do século XX, centenas de milhares de judeus foram assassinados durante tumultos anti-semitas que periodicamente dizimavam povoações e bairros judeus por toda a Europa, desde a Rússia até à Espanha. E mesmo em Portugal. Não nos esqueçamos, por exemplo, que dois mil cristãos-novos (judeus convertidos à força ao cristianismo em 1497) foram assassinados e queimados no Rossio em Abril de 1506, naquele que é geralmente referido como o Massacre de Lisboa. Esta matança fazia parte de uma alta tradição europeia que permaneceria vigorosa até à libertação dos campos de morte nazis, altura em que as atitudes populares para com os judeus – bem como a retórica de antagonismo do Vaticano – foram forçadas a mudar.
Uma boa parte da audiência de Shakespeare teria provavelmente ouvido falar de pelo menos um pogrome ocorrido na Inglaterra antes da expulsão dos judeus pelo rei Eduardo, já que era bem conhecido em toda a Inglaterra – a carnificina ocorrida em York a 16 de Março de 1190, quando 150 judeus (toda a comunidade judaica da cidade) se barricaram no castelo real, fugindo a uma populaça enlouquecida e determinada a aniquilá-los. Encurralados, ante a perspectiva de uma morte certa, os judeus pegaram em facas e mataram os próprios filhos, antes de se suicidarem em massa.
Na altura, a centena e meia de cadáveres judeus ensopados em sangue constituiu uma conclusão satisfatória para a tentativa de pogrome, já que este suicídio colectivo deixara a cidade de York livre de judeus (ou Judenrein, o termo que os nazis utilizariam mais tarde para designar as zonas que tinham “limpo” de “contágio” judeu).
Assim, quando Shylock insiste em receber o seu famoso meio quilo de carne humana em compensação de uma dívida por saldar – multa que custaria a vida a um dos heróis da peça –, nenhum dos espectadores de Shakespeare terá sentido a mínima surpresa; os judeus eram, por natureza, cruéis, vingativos e sanguinários. E desgraçadamente obstinados – pela simples razão de que se recusavam a reconhecer algo que era óbvio para todas as outras pessoas: a divindade de Jesus. Os westerns de Hollywood tinham como vilões cowboys de chapéu preto; os dramaturgos europeus tinham o Judeu.
Contudo, há na peça um monólogo no qual Shakespeare procura dissipar o mito dos judeus como uma espécie maléfica e sub-humana – o bem conhecido lamento de Shylock que começa com as palavras “Não tem um judeu olhos?”. Esta poética e sincera reivindicação de humanidade – e, mais importante ainda, de uma plena igualdade entre judeus e cristãos – constitui o único momento na peça em que Shakespeare visa claramente libertar a personagem de um cliché centenário, apresentando-o como um indivíduo digno da nossa simpatia e compreensão. Esta brusca mudança de tom terá chocado o público do dramaturgo? É provável. Alguns dos seus espectadores mais devotos e tacanhos poderão até ter considerado estas palavras escandalosas e heréticas.
Para o bem e para o mal, contudo, Shakespeare não prosseguiu nesta caracterização de Shylock como um homem digno do nosso respeito – como um indivíduo de tal modo injustiçado que a vingança parece ser a sua única opção. Pelo contrário, pouco depois do famoso lamento, o dramaturgo regressa ao estereótipo, ainda que, no final da peça, o enfraquecimento mental e físico de Shylock possa inclinar o espectador à compaixão. É até possível que, perante a completa destruição espiritual e material de Shylock, alguns espectadores isabelinos considerassem excessiva e injusta a vingança de Pórcia e António. Por que razão não lhe fora permitido preservar ao menos um resto de dignidade?
Não posso deixar de sentir que, no que respeita a Shylock, Shakespeare perdeu uma oportunidade de criar uma obra muito mais provocadora e subversiva. Se tivesse investido a personagem do judeu de mais qualidades positivas ou até admiráveis, poderia ter criado uma peça revolucionária, incomparavelmente surpreendente. Teria desafiado todas as convenções da época e encorajado os espectadores a porem em questão os seus preconceitos sobre os judeus, eles próprios, a Igreja e toda a hierarquia da sociedade europeia.
Contudo, quem sou eu para censurar Shakespeare por ter preferido jogar pelo seguro? Libertar Shylock de clichés e estereótipos nas cenas finais da peça, permitindo-lhe triunfar – ao menos moralmente – sobre os seus inimigos, só poderia causar problemas ao autor. Arriscar-se-ia certamente ao desterro ou a uma pena de prisão. O mais provável era que a sua fama, por si só, não o salvasse.
Assim, tal como no tradicional western de Hollywood, Shakespeare optou por um desfecho no qual os “bons” (Pórcia e António) triunfam sobre o “mau” (Shylock). O usurário judeu, ludibriado por Pórcia, acaba destruído e sem tostão. Pior ainda, a filha dele foge com o seu pretendente e jura converter-se ao cristianismo. O próprio Shylock é forçado à conversão.
Para os espectadores de Shakespeare, mesmo para aqueles que tivessem sentido um pouco de simpatia por Shylock no decurso do drama, este era certamente um final muito feliz, quanto mais não fosse porque forçar um judeu a converter-se ao cristianismo era na época entendido como um serviço a Cristo – uma causa pela qual os fins justificavam todos os meios, incluindo as torturas mais cruéis. O converso passaria agora a servir tudo o que era justo e sagrado, e no processo garantia até a salvação da sua alma!
Em suma, a audiência isabelina consideraria certamente um triunfo que Pórcia – por meio das suas artimanhas – tivesse tornado Judenrein o seu pequeno canto de Veneza. Os espectadores regressariam a casa de excelente humor, depois de verem confirmados todos os seus preconceitos.
Só que, em 2008, qualquer encenador de teatro sabe – pelo menos desde o Holocausto – que o final da peça jamais poderá ser considerado feliz. De facto, após ter relido recentemente O Mercador de Veneza, compreendi que o desfecho é um total e absoluto desastre – uma revoltante caricatura da justiça. Só nos cantos mais virulentamente anti-semitas e provincianos do nosso mundo – na Arábia Saudita, no Irão e em outras ditaduras religiosas – poderá alguém rir perante o destino de Shylock, como terão feito alguns dos menos sofisticados espectadores isabelinos. Nas teocracias islâmicas do Médio Oriente, é também possível que o público aprecie quaisquer analogias que os críticos possam apontar entre a sede de vingança de Shylock e a opressão dos palestinianos às mãos de Israel (como vingança por dois mil anos de intolerância…). O Mercador de Veneza serviria perfeitamente aos seus propósitos propagandísticos. Mas, e no Porto em 2008?
Esperemos que a maioria dos membros da audiência possa compreender que a destruição de Shylock tão alegremente causada por Pórcia e António constitui prova cabal de que o primeiro estava absolutamente certo em desprezar os segundos, bem como aos outros cristãos à sua volta! De facto, não passam de brutos provincianos e cruéis, indignos do respeito de Shylock, bem como do nosso. Pórcia, em particular, revela-se uma hipócrita da pior espécie; embora discorra eloquentemente sobre a “qualidade da compaixão”, não mostra misericórdia para com Shylock.
Ainda assim, creio que um bom número de espectadores portugueses regressará a casa convicto de que a sede de vingança de Shylock é bem um sinal da sua natureza judia. Pela simples razão de que os portugueses consideram verdadeiros os mais disparatados estereótipos sobre os judeus. Tem-me sido dito muitas vezes que, por exemplo, os judeus são gananciosos, avarentos e agressivos – os mesmos adjectivos usados com frequência para caracterizar Shylock. Porque me dirão tais coisas, sabendo que eu sou judeu? Eis uma questão que deixo ao cuidado dos seus psiquiatras. Pessoalmente, sempre tomei tais afirmações como, no mínimo, um sinal de provincianismo e má-fé.
A persistência de tais estereótipos deve-se em parte ao facto de os portugueses nada saberem sobre a cultura e filosofia judaicas (e aqueles que julgam conhecê-las defendem muitas vezes as opiniões mais mal informadas que tenho ouvido na minha vida!). Mesmo os que se têm na conta de pessoas cultas e viajadas acreditam provavelmente que as famílias judias que viveram durante séculos em Lisboa, no Porto e em Évora antes das conversões em massa de 1497 não eram verdadeiramente portuguesas. Eram simplesmente judeus que viviam em Portugal – uma espécie diferente…
Portanto, deverá o encenador da peça fazer alguma coisa para destruir as ideias preconcebidas do público e garantir que o desfecho é entendido como uma revoltante tragédia? Eis a questão que coloquei a mim próprio quando, para escrever este texto, reli O Mercador de Veneza. E a leitura em breve me impunha uma questão ainda mais directa: o que faria eu, se a encenação fosse minha?
Certamente que não alteraria o texto de Shakespeare, nem mesmo os excertos de propaganda anti-semita. Acredito que é importante não esquecermos os sentimentos de medo e ódio que os judeus inspiravam na sociedade isabelina. No mínimo, a peça deverá lembrar-nos da necessidade de permanecermos vigilantes contra o fundamentalismo religioso, seja ele de que espécie for.
Obviamente, um elenco de qualidade pode fazer muito para “humanizar” Shylock e revelar a crueldade de António, Pórcia e dos outros cristãos, mas não estou certo de que seja esse o caminho a seguir. No que toca a Shylock, à excepção do lamento e da fraqueza de que dá mostras no final da peça, Shakespeare retratou-o como um demónio sem piedade. Já as personagens cristãs, apesar de alguns defeitos e fragilidades, são apresentadas como homens e mulheres merecedores de simpatia, a fazerem os possíveis para vencer pela astúcia um monstro sem coração (e, no processo, a encontrarem o amor!). É possível que a derrota que impõem a Shylock seja um tanto excessiva, mas, no final de contas, eles estão a agir ao serviço de Cristo. Assim, porquê alterar os retratos que Shakespeare traçou? As personagens são, obviamente, aquilo que ele pretendeu que fossem.
Não obstante, eu faria uma adição não especificada pelo autor: insistiria que Shylock usasse um distintivo amarelo – o pedaço circular de pano que os judeus eram obrigados a usar em Veneza e em muitas outras regiões da Europa durante a Idade Média, e que os marcava como comunidade à parte. Este distintivo foi o precursor da estrela amarela cujo uso os nazis impuseram aos judeus.
Com essa pequena adição, os espectadores seriam pelo menos levados a considerar a hipótese – desde a primeira entrada em cena de Shylock – de que a verdadeira vítima da peça não é António, mas sim o usurário judeu. É este que tem vivido toda a sua vida amaldiçoado pelos cristãos que o rodeiam – desprezado por António e condenado por todas as outras personagens. É ele que tem sido forçado a viver como pária e a ver os amigos e parentes sob a ameaça da aniquilação devido aos pogromes que grassam por toda a Europa. São os seus descendentes que morrerão em Auschwitz.
Assim, quando Shylock exige o seu meio quilo de carne, o público seria igualmente forçado a perguntar-se: se eu tivesse enfrentado o extermínio, quer às mãos de fanáticos na Europa medieval, quer num campo de morte nazi, não desejaria também exigir uma qualquer terrível vingança contra aqueles que tentaram arruinar a minha vida e destruir o meu povo?
Como encenador, faria ainda duas exigências relativamente à escolha dos actores: que Lorenzo e Pórcia fossem louros e belos – perfeitas fantasias arianas. Deste modo, quando Jessica trai o pai para fugir com Lorenzo, os espectadores seriam forçados a ver o mesmo que Shylock vê – que perdeu a filha para o inimigo. Bem como os seus futuros netos. Na verdade, para Shylock, todas as esperanças de futuro morrem no momento em que Jessica se escapa de casa.
Assim, quando a ardilosa Pórcia leva a melhor sobre Shylock – humilhando-o, arruinando-o e forçando-o a converter-se –, o público experimentaria também o perturbante frisson de saber que ela faz parte de uma grande tradição que conduzirá à “Solução Final” dos nazis – em especial por se mostrar tão satisfeita consigo própria por ter reduzido Shylock à miséria e à desgraça.

Uma última especulação…
No sub-enredo de “conto de fadas” da peça, os pretendentes de Pórcia têm de escolher entre três cofres – de ouro, prata e chumbo – de modo a ganharem a mão da jovem em casamento. É neste contexto que Shakespeare nos oferece uma das suas mais célebres expressões: “Nem tudo o que luz é ouro”. Este truísmo é obviamente apresentado como uma das morais da história.
Mas será que Shakespeare pretendeu que aplicássemos esta máxima ao resto da peça – à história de Shylock e António? Será que o autor nos está a dizer – subtilmente, nas entrelinhas, ou até com um desejo inconsciente de minar a superficialidade da sua mensagem – que o fim da peça, aparentemente tão dourado, é na verdade feito do mais reles chumbo? Ou será este um sentido que me é dado ler, pois sou um homem do século XXI e por isso propenso a ver a destruição de Shylock como um desastre?
Evidentemente, não tenho como sabê-lo. Talvez Shakespeare tivesse desejado que interpretássemos dessa forma a sua peça – ou não. Ainda assim, ao juntar as histórias de Pórcia e de Shylock, o dramaturgo leva-nos a supor que o fim da peça talvez não seja o que parece. O “bem” não vence o “mal”. Pelo contrário, triunfam a crueldade e a falta de compaixão.
Neste sentido, a peça contém uma mensagem secreta, recôndita, no interior de um enredo superficial que devemos descartar se de facto queremos compreender o seu significado mais profundo. Será que O Mercador de Veneza, à semelhança dos sigilosos judeus da Inglaterra, esconde o rosto da heresia sob uma devota máscara cristã?


Michael Fieni